Ilustração: Lucas Rocha

Elabora pauta, apura, entrevista, decupa, grava, redige e revisa. A rotina de um jornalista exige dinamicidade e, por vezes, alguns acúmulos de funções no meio digital. Quando se trata de uma jornalista mulher, então, esse cenário profissional é acompanhado de uma jornada dupla ou mesmo tripla. A correria é três vezes maior na tentativa de conciliar o lado profissional, vida pessoal e trabalhos invisíveis de cuidado.

Com pesquisa divulgada em 2022, a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), traçou o perfil do/a jornalista brasileiro/a 2021 , após coletar 6.594 respostas válidas de profissionais de todas as regiões do Brasil. Os dados indicam que jornalistas do país ainda são majoritariamente mulheres (58%), brancas (68,4%), solteiras (53%), com até 40 anos.

Ao interpretar esses dados, a pesquisadora e jornalista alagoana Carla Serqueira explica que a grande quantidade de mulheres na profissão não significa necessariamente que ocorra um processo de ocupação igualitária desses espaços do ponto de vista hierárquico.

Os dados de pesquisas recentes demonstram que o poder de decisão ainda é concentrado no grupo de jornalistas homens. Na tentativa de dar conta deste contexto, as teorias do Teto de Vidro e da Síndrome da Abelha Rainha ajudam a desvendar obstáculos no processo de feminização, como critérios desiguais para ascensão profissional (Teto de Vidro) e a reprodução da cultura organizacional masculina pelas mulheres que alcançam cargos de chefia (Síndrome da Abelha Rainha), revela.

Sobre as mudanças em comparação com a primeira versão do levantamento de 2012, a pesquisadora destaca a diminuição do número de mulheres (de 64% para 58%) e aumento da presença masculina (36% para 42%) na profissão.

Foi constatado um declínio no processo de feminilização do jornalismo no Brasil, indicador que vai de encontro à tendência de maioria feminina indicada em estudos recentes. A precarização intensificada pela crise do capital que chegou em sua forma mais crítica em 2008, além da reestruturação da profissão em decorrência do cenário político e econômico global são alguns motivos indicados. Em períodos de crise, as mulheres são dispensadas em maior número do que os homens, ficam mais vulneráveis, ressalta.

De acordo com a pesquisa, a presença de pessoas negras na profissão também cresceu de 23% em 2012 para 30% em 2021. Carla pontua que é importante acompanhar os indicadores para prever os futuros quadros de jornalistas atuando na comunicação brasileira.

É fundamental verificar a diversidade no jornalismo não apenas considerando o acesso, mas principalmente as condições de permanência e de ascensão profissional. Ainda falta muito a se conquistar: se hoje a maioria dos/as jornalistas é formada por mulheres, em um percentual altíssimo estas mulheres são brancas. Então ainda falta uma representatividade realmente significativa de mulheres negras no jornalismo e também de mulheres indígenas, mulheres trans e mulheres com deficiência, entre outros grupos sub-representados na profissão, reforça.

Afastando-se das grandes mídias hegemônicas, o âmbito do jornalismo alternativo, a partir do acesso às tecnologias e ao meio digital, apresenta-se como uma possibilidade para que mulheres assumam o comando efetivo de novas iniciativas jornalísticas mais plurais e diversas. Nesta reportagem multimídia, trazemos o relato de vivências, representatividade e desafios de mulheres atuantes nesse cenário em Alagoas.


As mil facetas de Géssika

Natural de Maceió/AL, Géssika Costa, 31 anos, encontrou seu lugar no radiojornalismo e usou toda sua habilidade a seu favor - talento e suor que lhe renderam 28 prêmios desde que se formou até hoje. O interesse em competir vem desde a adolescência quando praticava esportes como handebol, futsal e futebol.

Quando concluiu a graduação, ela foi contratada pela Agência Radioweb, lugar onde estagiou como repórter de rádio. Ao fazer matérias especiais, Géssika teve a ideia de produzir matérias também para os prêmios de jornalismo, visto que a própria empresa tinha uma política de incentivo para repórteres premiados.

Além do dinheiro extra no salário, participar dos concursos e premiações lhe trariam reconhecimento profissional e a possibilidade de viajar e conhecer o país, como conta:

Foto: Kamilla Abely

Virada de chave
Géssika Costa
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A jornalista passou grande parte da sua vida morando no bairro da Ponta Grossa com sua família. Em sua infância, foi muito mimada pelos avós maternos, que lhe davam bonecas e guloseimas em forma de carinho. O desejo pelo jornalismo também veio desde pequena, Géssika sempre foi uma criança comunicativa e desenvolta, uma boa aluna mas que conversava demais segundo os professores. Foi em uma gincana do colégio sobre atualidades, respondendo perguntas sobre as eleições dos Estados Unidos, que ela decidiu de uma vez por todas pela profissão.

Quando finalizou o Ensino Médio, Géssika se dividiu entre dois cursos: Relações Públicas (RP), pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), e Jornalismo numa faculdade particular. Ralando muito para conseguir se manter na faculdade particular, que segundo ela era cara na época, os desafios não se resumiam apenas à dificuldade financeira.

A primeira dificuldade é quando você entra na faculdade e não enxerga na sua turma muitas pessoas pretas, acho que só tinha eu e mais duas. As pessoas não eram iguais a mim e alguns professores a tratavam diferente. Depois percebi que os meus colegas conseguiram estágio mais rápido que eu, apesar de não terem a mesma experiência que eu tinha, mas por indicação de alguns professores
Géssika Costa

Foto: Kamilla Abely

Quando veio a oportunidade do primeiro estágio remunerado em jornalismo, ela se desdobrava para dar conta de tudo nas 24h que tinha. “De manhã, eu estagiava, de tarde eu ia para a UFAL, de noite eu ia para o Cesmac. Sempre gostei de fazer muita coisa ao mesmo tempo. Talvez eu seja até um pouco hiperativa”, destacou.

Depois Géssika decidiu abdicar da faculdade de RP para se dedicar à sua formação em jornalismo. Ela passou pelo impresso, radiojornalismo, webjornalismo, além de fazer assessoria. Apesar dos bons aprendizados em seus estágios, a jornalista não deixou de sofrer algumas violências enquanto mulher, como assédio moral e sexual.

“O estágio é sempre você estar num lugar mais frágil numa redação. Então isso acontecia, não em todas as redações, mas em algumas. Eram situações de jogar o lado pejorativo para a mulher negra, de soltar piadinhas e a gente na hora gela por ser muito nova na profissão e na vida. Eu tinha 20 anos. A gente fica sem reação e, às vezes, acaba rindo, mas rindo de medo, e eu não conseguia me posicionar”, ressaltou a jornalista.

Em 2019, após a Greve dos Jornalistas de Alagoas, veio seu primeiro contato com o jornalismo alternativo por meio da Agência Tatu, onde assumiu a função de diretora de plataformas, de forma voluntária. A partir daí, ela participou de outros projetos de jornalismo independente e fez ponte com profissionais de todo o país.

Géssika mostrando seu álbum de formatura junto a sua família. Foto: Kamilla Abely

“Sempre me virei em muitas Géssikas. A Géssika é de mil facetas. Já fiz TV, rádio, impresso, fiz de tudo”, destacou a alagoana. O desejo de montar seu próprio veículo também era algo antigo e logo o Olhos Jornalismo saiu do papel, enquanto coletivo de mídia independente no estado.

Atualmente, a jornalista concilia seu trabalho no Olhos Jornalismo, com sua função de coordenadora de projetos na Associação de Jornalismo Digital (Ajor), que é uma organização que reúne 137 iniciativas de jornalismo digital independentes do Brasil. Géssika reforça alguns desafios que enfrenta enquanto veículo independente como assédios judiciais, dificuldade de ganhar espaço no mercado e a falta de apoio financeiro e estabilidade.


Início do Olhos Jornalismo
Géssika Costa
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Em 2024, o Olhos Jornalismo completa 4 anos e ainda não é sustentável. A gente já ganhou diversos projetos ao longo dos anos, mas eles não foram suficientes para que a gente dissesse que estamos sobrevivendo do Olhos e que o Olhos virou uma empresa de sucesso financeiro e econômico. Outro tipo de sucesso a gente consegue medir, mas o econômico é algo que a gente não consegue ter ainda, afirma a idealizadora.

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Trabalhando na Radioweb no estúdio em Alagoas
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Primeiro prêmio como profissional
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Conquista do primeiro pêmio nacional
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Entrevistando o secretário de segurança pública da época
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Conquista do 1º e 3º lugar de rádio do Prêmio Sinturb 2022
Fotos: Acervo pessoal

Apesar de ser uma guerra difícil de vencer, Géssika conta que os veículos alternativos estão ali para resistir e mostrar seus impactos. Um deles é a representatividade e pluralidade dentro das redações frente aos veículos tradicionais.


O delay de Alagoas
Géssika Costa
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Para se sentir representada, Géssika quando chegava nas redações sempre buscava por uma mulher preta de referência e foi acolhida por muitas jornalistas alagoanas em redações cercadas de homens brancos. Inspirada pela avó Geci Alice, pela mãe Geane Lima e tia Zenilde Alice, além das amigas de profissão que fazem parte da sua trajetória, Géssika hoje conta a história de mulheres inspiradoras e também inspira outras gerações.

Eu confesso que quando recebo um elogio fico feliz, mas fico meio com vergonha. Eu acho que às vezes a gente não consegue aceitar o elogio e isso é muito desse mundo machista, hétero, preconceituoso, em que mulheres negras não conseguem entender que são motivos de inspiração para outras pessoas, destaca.

O último suspiro de Wanessa

Em meio à crise no jornalismo alagoano no ano de 2019, a greve dos profissionais e a retaliação dos grandes conglomerados de comunicação em forma de demissões em massa, Wanessa Oliveira, 35 anos, viu no jornalismo alternativo uma nova chance de continuar fazendo o que sempre gostou.

Foi meu último suspiro, uma chance de voltar para a superfície, respirar, pensar e raciocinar direito em como fazer jornalismo. Tudo pensando em construir alguma coisa, não sozinha, com uma lógica diferente de trabalho e de condições de trabalho que sejam mais horizontais, que não tenham tantas amarras editoriais e nem políticas , destaca.

Nascida em Maceió/AL, Wanessa passou a maior parte de sua vida no bairro do Poço, na casa de sua avó materna, em um lar cheio de protagonismo e decisão de mulheres. Por sua adoração pela leitura, surgiu o apelido de “rata de biblioteca”. Amava estar com os amigos da escola e de sua rua, mas também adorava ficar sozinha com um livro na mão. Em contato com livros-reportagem, o jornalismo se tornou uma opção de profissão.

Foto: Kamilla Abely

A escolha pelo jornalismo
Wanessa Oliveira
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Depois de trabalhar com webjornalismo e assessorias, Wanessa decidiu dar uma pausa para se dedicar ao mestrado em Sociologia, um desejo que sempre teve de fazer pesquisas e se aprofundar em alguns assuntos. Entre as dificuldades que sofreu durante sua atuação no jornalismo, ela destaca que seu tom de voz formava uma imagem subestimada para os entrevistados, que se sentiam confortáveis para confessar algumas situações questionáveis. Apesar de ter aprendido a usar isso a seu favor, a jornalista não gostava do comportamento.

Tenho um tom de voz que é mais calmo e mais infantilizado na verdade e muitos entrevistados me subestimavam de uma maneira arrasadora, até hoje. Eles se sentiam muito à vontade para declarar situações e falas muito atrozes, muito levianas, às vezes. Isso era um ganho, mas me incomodava porque a pessoa sempre está sendo subestimada, sempre tendo que mostrar por outras características que não merece ser pisada, ressalta.

Em seu mestrado, Wanessa escreveu uma tese sobre violência obstétrica. Foto: Kamilla Abely

Após seu contato com a Sociologia, Wanessa passou a reconhecer algumas violências que sofreu e sofria enquanto mulher. Há 11 anos, em sua primeira gravidez, ela viu seu ritmo desacelerar para conciliar as várias jornadas junto à maternidade.

Na sociologia foi onde encontrei mesmo algumas respostas para o que eu vivia antes, conseguindo reconhecer quando eu sofria episódios de assédio com autoridades, quando sofria assédio no sentido de trabalho, quando os superiores queriam que eu trabalhasse de madrugada, por exemplo, quando eu já estava trabalhando domingo a domingo, e quando eu dizia não tinha condições, eles diziam: eu entendo, é porque você tem filho, e eu dizia: não, é porque eu tenho vida, conta.

O feminismo me faz trabalhar com esse sangue no olho, sendo também uma lente com que eu faço minhas escolhas pessoais e profissionais, além de me fazer enxergar o mundo e as limitações que a gente tem enquanto mulher, a partir das nossas individualidades que se atravessam e que são interseccionais. Para algumas mulheres é muito mais difícil do que para outras
Wanessa Oliveira
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Com sete meses de gestação, Wanessa espera seu segundo filho. Foto: Kamilla Abely

Depois de passar três anos ensinando em faculdade particular, ela retornou para a sua área de formação fazendo reportagens, entrevistas, coordenando redes sociais de um veículo de imprensa e até fazendo participações em rádio.

Eu sempre atuei na imprensa dentro de uma grande corporação daqui, mas a crise no jornalismo alagoano, que é brasileiro na verdade, foi apertando muito as condições de trabalhos da gente, era uma sobrecarga imensa que impactava diretamente na qualidade mesmo do trabalho da gente. Nesse contexto, os donos das empresas resolveram se juntar e querer reduzir o piso do jornalista em 40% e aí houve uma greve que foi a gota d´água porque mostrou como estava sendo brutal a relação, ressaltou a jornalista.

Após sua demissão, Wanessa se juntou a outros amigos jornalistas para construir a Mídia Caeté - uma cooperativa de jornalismo local e independente.

Apesar de todos os avanços, para a jornalista, a sustentabilidade é uma das maiores dificuldades no jornalismo independente.

A gente abre mão da publicidade e é muito desafiador viver de editais, já que não tem fomento ao jornalismo independente como tem em outros setores. E isso também impõe mais uma dificuldade que é a gente conseguir se equipar tecnicamente e tecnologicamente para manter essa autogestão ativa, destacou.


A idealização da Mídia Caeté
Wanessa Oliveira
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Para Wanessa, existe uma maior representatividade no contexto do jornalismo alternativo, mas a falta de recursos, apoio e incentivo não garante a permanência dos projetos e de que as iniciativas mais plurais se estruturem e se mantenham a longo prazo. Ela pontua também que, apesar do processo de representatividade ser importante, a sociedade não pode se iludir sem levar em conta o contexto desigual brasileiro.

A gente tem um problema estrutural gigantesco no Brasil em termos de opressões, de classe, de gênero, de raça e etnia. Se esse problema em si não for enfrentado de uma maneira mais direta e mais coletiva, a gente corre o risco de ter referências de mulheres aqui e ali, enquanto a grande maioria acaba seguindo nas margens de falta total de condições de trabalho, de vida, de possibilidade de continuar com o jornalismo também, enquanto se louva algumas que estão no topo, reforça Oliveira.

A representatividade de Priscila

Se perguntassem no ano de 2009 para Priscila Anacleto, 32 anos, qual curso escolheu e quais eram as expectativas, ela falaria que optou por jornalismo no PSS da Universidade Federal de Alagoas, mas que tinha certeza de que não passaria. Mal sabia ela que receberia a notícia da aprovação por terceiros e que, anos depois, seria a primeira pessoa da família a concluir o ensino superior e fazer sua história no jornalismo alagoano.

Quando perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Eu pequenininha, não sabia nem ler, respondia: jornalista! Não sei de onde veio a influência. Sempre soube da dificuldade que seria entrar na universidade, eu nem sequer sabia o dia do resultado porque eu tinha certeza que eu não ia passar. Sou filha de uma cozinheira e meu pai na época era caseiro e pipoqueiro. Eu estudava numa escola estadual que ficava no interior, não tinha valorização. Fui avisada por outras pessoas que havia passado na UFAL, contou.

Foto: Kamilla Abely

Nascida em Maceió/AL, Priscila morou em Paripueira durante sua infância e desenvolveu uma relação forte com o mar. Sempre se dedicou em sala de aula, tirando boas notas e manteve isso ao longo de sua graduação. Dividia-se entre a faculdade e empregos temporários, como balconista e cuidadora de crianças - até aparecer sua primeira oportunidade de estágio na TV Gazeta.

Atualmente, Priscila cuida dos bastidores e gestão da TV Liberdade. Foto: Kamilla Abely

Ao cobrir as férias de jornalistas em Arapiraca e se destacar, logo veio a contratação e proposta de morar na cidade do Agreste produzindo para a sucursal da filial da Globo. Durante sua atuação profissional, Anacleto descobriu sua paixão pela área esportiva, mas infelizmente como tantas outras jornalistas mulheres, enfrentou situações de assédio e preconceito de gênero como conta abaixo:


Assédio dentro e fora de campo
Priscila Anacleto
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Infelizmente, Priscila também passou a lidar não só com o preconceito de gênero, mas com o racismo dentro da empresa. Enquanto produtora de pautas, pouco tempo depois ela também passou a cumprir a função de repórter. Priscila estava há um mês no processo de transição capilar e decidiu que não abandonaria sua decisão.

A transição não é um processo fácil e a umidade também dificulta bastante. Eu tinha que entrar ao vivo às seis horas de amanhã, tinha que estar na praça às cinco da manhã. Por mais que eu fizesse texturização e todas as dicas que encontrava na internet, a umidade fazia com que o meu cabelo ficasse sem forma, ficasse estranho. O conselho que eu mais recebi na época foi fazer permanente afro ou voltar a alisar, mas eu não queria voltar a fazer química. Estava decidida e foi aí que eu resolvi cortar o meu cabelo com cinco meses de transição, ele ficou muito curto, as pessoas criticaram bastante, me chamaram de louca, perguntaram quem me obrigou. Não era fácil, mas eu tinha tomado uma decisão e levei até o fim, resaltou.

Os episódios de racismo faziam parte do dia a dia de Priscila, apesar da pauta de representatividade negra ser levantada pela empresa quando lhe era conveniente.


Racismo nos bastidores
Priscila Anacleto
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Durante a época de sua transição, a jornalista conta que também chegou a receber críticas de pessoas dizendo que ela estava imitando a Maju Coutinho, que estava aparecendo em rede nacional com seu cabelo natural. Apesar dos comentários maldosos, pouco tempo depois, Priscila teve o retorno de meninas que estavam sendo inspiradas por ela a abandonarem a química e assumirem as formas naturais dos seus cabelos - do cacheado ao crespo.

Eu recebi relatos de meninas, de pais, de professoras que falaram sobre meninas que resolveram fazer porque me viram fazendo a transição capilar ao vivo, tipo: se a Priscila está fazendo a Transição Capilar na TV ao vivo, eu consigo fazer em casa e ir para a escola! Na época em que eu comecei a aparecer nós até tínhamos jornalistas negros, mas não jornalistas negras cacheadas, crespas e muito menos passando pela transição na TV. Digo com muito orgulho que eu fui uma representatividade importante para essas meninas em Alagoas
Priscila Anacleto

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Meninas do Grupo Tereza de Benguela que foram incentivadas pela transição capilar de Priscila
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Recebendo a entrega do Prêmio Destaque 2022 pela TV Liberdade
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Priscila em reportagens e coberturas para a TV
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Defesa do TCC sobre a banda de reggae Vibrações
Fotos: Acervo pessoal

A representatividade que as crianças e estudantes de jornalismo presenciam hoje não era o mesmo cenário na época em que Priscila tentava se imaginar na profissão:


O desafio de ir para o vídeo
Priscila Anacleto
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Durante a rotina na TV, ela se aproximou do jornalista Tony Medeiros, que tempos depois se tornaria seu esposo, com quem compartilhou o sonho mútuo de construir um veículo alternativo - mas que não era possível por causa das regras da emissora. Em 2019, Priscila e seus amigos de profissão foram surpreendidos com a crise no mercado que fez surgir a greve dos profissionais - movimento em que participou efetivamente e ficou nove dias sem atuar, lutando por seus direitos trabalhistas.

Quando foi demitida - até hoje sem ter recebido seu FGTS, Priscila resolveu se dedicar a seu sonho antigo de criar seu próprio veículo e assim nasceu a TV Liberdade, uma WebTV focada em cobrir assuntos relacionados à cidade de Arapiraca, capital do Agreste alagoano.

Priscila acumula prêmios e o reconhecimento das pessoas que acompanham sua trajetória. Foto: Kamilla Abely

O nascimento da TV Liberdade
Priscila Anacleto
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Priscila não esconde sua felicidade ao falar sobre os 4 anos da TV Liberdade e seus resultados, seja em impressões no Youtube, seja com feedbacks diretos de internautas. Apesar dos impactos positivos, a idealizadora destaca a dificuldade em se manter como veículo independente e ter que conciliar com trabalhos em outras áreas por questões financeiras. “Enquanto veículo independente nós precisamos sempre mostrar o que podemos fazer, mostrar nosso valor, precisamos ganhar o nosso espaço e as pessoas não entendem que precisamos nos manter”, reforçou.

O feminismo de Raíssa

A alagoana Raíssa França, 31 anos, nasceu em Maceió e sempre teve o gosto pela escrita desde a infância. Ler e contar histórias era sua paixão, e na sétima série ela chegou a escrever um livro como atividade do colégio. Uma criança comunicativa que todos a seu redor já previam que escolheria algo relacionado à área de comunicação.

Quando a internet chegou e se popularizou, Raíssa trocou os caderninhos e diários por blogs para deixar registrados seus contos e crônicas - sobre romance ou vida cotidiana. Com sua personalidade forte, ela também tinha um senso de justiça que a acompanhava desde cedo. O jornalismo, apesar de sempre ter sido sua primeira opção, foi a segunda faculdade a cursar depois de uma crise pessoal, como conta.

Foto: Kamilla Abely

O jornalismo como primeira opção
Raíssa França
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Em sua trajetória profissional, a jornalista passou por várias áreas e lugares entre assessorias e redações. Quando teve contato com o webjornalismo, Raíssa descobriu sua paixão por redação e, logo após concluir a graduação em 2018, foi contratada como repórter. A partir daí, foi conciliando vários empregos também em assessoria e produção de conteúdo para redes sociais.

Ao trabalhar em uma redação majoritariamente feminina, Raíssa se sentia acolhida ao conviver cercada de mulheres. Nos trabalhos externos e coletivas, entretanto, ela enfrentou situações de assédio que, ao longo do tempo, aprendeu a lidar e tomar uma posição que não possuía antes. Em um dos casos, a jornalista foi descredibilizada e ameaçada por um político.

Eu notava que os homens se comportavam de uma maneira diferente e já levei também alguns gritos de homens sobre algumas matérias que não gostaram. Acho que na cabeça deles era bem mais fácil gritar com a mulher. Recebi até uma ameaça velada de um deputado que disse: vou pedir que o seu chefe reveja essa equipe porque não me parece adequada. Parece que você não tem formação suficiente. Isso porque eu fiz uma pergunta que ele não gostou, revelou.

Eu me senti muito tentada a fazer algo pelo mundo, a fazer algo de diferente.
Raíssa França

Em 2019, trocando ideias com amigas, Raíssa descobriu o desejo de empreender e deixar sua marca no jornalismo alagoano. Junto a uma colega de profissão, ela começou a pensar e planejar seu projeto que sairia do papel em 2020 com o nome de Eufêmea, portal de conteúdo focado no público feminino do Nordeste.

O Eufêmea aborda pautas direcionadas ao público feminino no Nordeste. Foto: Kamilla Abely

Eu sabia que queria fazer algo relacionado à redação, que era algo que eu gostava, e a mulheres. Porque nesse período eu tive um blog no Cada Minuto e, quando escrevia muitos assuntos que a mídia tradicional não abordava, eu percebia que muitas mulheres me procuravam para dizer que se sentiram representadas com as matérias. Então eu sabia que existia uma lacuna, foi quando eu decidi realmente que seria um portal de conteúdo feminino explicou. Conheça um pouco mais sobre o portal Eufêmea abaixo:


Sobre o Eufêmea
Raíssa França
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O site foi ao ar no ano de 2020, no cenário pandêmico, e na época Raíssa não o imaginava como um veículo alternativo. “Não me passava pela cabeça que era uma mídia independente, eu não entendia bem esse universo e não existiam muitos sites de mídia independente aqui. Era algo que não era muito a minha realidade, eu fui aprendendo depois com o tempo, afirmou.

A jornalista conta alguns desafios e conquistas que surgiram após criar seu veículo:


Desafios e conquistas no alternativo
Raíssa França
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Conquista do Troféu Mulher Imprensa 2023
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Trabalhando para o portal em que começou como estagiária de jornalismo
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Comemoração do aniversário de 3 anos do Eufêmea
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Conclusão do seu processo de transição capilar
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Raíssa com a equipe de redação do Eufêmea
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Apresentação de resultados do Eufêmea após programa de aceleração de negócios
Fotos: Acervo pessoal

Raíssa abdicou de seu emprego como repórter em um site de notícias tradicional e atualmente está se dedicando exclusivamente ao Eufêmea. Ela conta que antes de ter seu próprio veículo e lutar diariamente contra o machismo, havia sido chamada para um projeto de faculdade de uma amiga, que a perguntou se ela era feminista. Raíssa negou por não entender o movimento e ainda não se enxergar como uma.

Eu não me sentia uma mulher feminista, eu não achava que eu era feminista. Eu até falei isso, disse que eu não me considerava uma mulher feminista porque realmente eu não entendia o que era o feminismo, então eu também não ia ser hipócrita, não ia dizer uma coisa que eu não entendia bem. Mas quando me recordo de quando eu era criança, sempre fui de combater, sempre fui de falar: não, mulher tem espaço, não é assim, direitos iguais! Eu sempre fui essa criança e ninguém nunca me ensinou. Então eu sempre fui feminista, sabe, eu só não sabia, só não entendia, comenta. 

A potência de Lícia

O ano de 2023 foi decisivo para a jornalista Lícia Souto, 25 anos, que se jogou de corpo e alma na Revista Alagoana, veículo independente que idealizou durante a faculdade. Isso porque ela passou a enxergar a vida sob um novo ângulo e significado depois de um ano da descoberta de um câncer de ovário, início do tratamento e uma difícil recuperação.

Viver a realidade de um paciente oncológico foi realmente uma coisa transformadora na minha vida. Foi um choque, mas eu atravessei muito bem, com muito bom humor. Hoje já tenho um monte de cabelo na cabeça e me sinto realmente renovada e com a visão da vida totalmente diferente da menina que entrou naquela sala de quimioterapia no dia 19 de setembro, no dia do meu aniversário, reforçou Lícia

Lícia durante o processo de tratamento. Foto: Acervo pessoal

Foto: Kamilla Abely

Doar-se para esse projeto foi uma forma de encontrar força e se reencontrar no processo de cura. Mas a garra sempre esteve com a menina que nasceu em Garanhuns, interior de Pernambuco, e aos 10 anos lidou com a perda da mãe, acontecimento que a marcou para o resto da vida. Com todo suporte, apoio e afeto da família, ela atravessou a perda materna e aprendeu a valorizar os relacionamentos que construía desde a escola.

Em 2017, ao concluir o Ensino Médio, decidiu se mudar para a casa da sua tia em Maceió e poder cursar a profissão que tinha escolhido.


A identificação pelo jornalismo
Lícia Souto
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Durante a graduação, Lícia experimentou e se desafiou em várias áreas, uma delas foi o jornalismo esportivo. Tentando se familiarizar, ela se preparou para realizar sua primeira cobertura, ainda como estudante. Em campo, Lícia ouviu piadas vindas dos jogadores, situação que o professor da disciplina alertou que poderia acontecer no ambiente masculinizado de futebol.

Em alguns momentos eu me sentia essa pessoa que não era ouvida, não era levada a sério, por ser mulher e também por ser muito nova.
Lícia Souto

A experiência no campo a fez se afastar do esporte. Pouco tempo depois, ela começou a trabalhar com assessoria, fazendo viagens para a empresa na qual trabalhava. Em algumas reuniões, Lícia sentia dificuldade para ser ouvida e sua opinião ser levada em conta frente a outros colaboradores homens - situação que se repetia em outras ocasiões.

Foto: Kamilla Abely

Por mais que seja recém-formado, novo ou estagiário, a opinião de um homem acaba sempre tendo um pouco mais de credibilidade. Já uma mulher, principalmente jovem, quando coloca o ponto de vista ali na mesa, às vezes não tem o mesmo peso porque parece que ela não sabe o que está fazendo. Então eu fui tentando moldar a minha imagem para que a minha palavra tivesse mais valor e mais peso, revelou a jornalista.

Lícia então foi abandonando o antigo visual - que antes muitos só enxergavam uma menina jovem - e construindo a imagem de mulher séria e imponente. Pouco tempo depois ela também descobriria talento para trabalhar com branding, desenvolvimento e fortalecimento de marcas.

Ao passar por todas os espectros da comunicação, foi no jornalismo cultural que Souto, junto a outros amigos de graduação, decidiram criar a Revista Alagoana. Como boa pernambucana e bairrista que é, a jornalista viu a oportunidade de criar um veículo que fortalecesse a arte e cultura de Alagoas, com todo protagonismo. Hoje, Lícia é uma das sócias e idealizadoras da revista e conta um pouco sobre como o projeto nasceu:


A identificação pelo jornalismo
Lícia Souto
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A conclusão da graduação, por sua vez, foi um acontecimento significativo na história de Lícia, que se tornou a primeira mulher de sua família a se formar. “Minha mãe não se formou, a minha avó não se formou. As mulheres que vieram antes de mim na família passaram por contextos muito complexos, por muitos altos e baixos, e que passaram por um momento de pobreza. Eu sou parte da geração que atravessou e mudou essa história”, comenta orgulhosa.

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Primeira vez em campo realizando cobertura fotográfica esportiva
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Primeiro outdoor da revista nas ruas
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Conclusão do tratamento e recebimento de alta
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Primeira cobertura para a Revista após o tratamento
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Lícia e integrantes da Revista em primeiro ensaio fotográfico oficial
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Participação em aula para estudantes de jornalismo da UFAL em 2023
Fotos: Acervo pessoal

Lícia não impactou apenas a memória de sua geração, mas impacta também a história do jornalismo alternativo alagoano por fazer parte desse ecossistema que busca por mais diversidade, pluralidade e criticidade. Olhando para trás, desde que se formou na faculdade até aqui, ela percebe um crescimento do cenário alternativo jornalístico no estado.

Hoje eu vejo não somente novos veículos surgindo como também uma rede se fortalecendo, enxergo a Ajor como um condutor muito forte e outros veículos maiores do que nós, por exemplo, trazendo iniciativas que fortalecem essas outras iniciativas menores e distribuídas pelo Brasil todo, mas principalmente no Nordeste em que a gente tem essa deficiência. Então eu vejo que em Alagoas, principalmente, o jornalismo independente ganhou muito mais força, ressalta Souto.

Desde a infância, Lícia amava ler livros. Foto: Kamilla Abely

Em relação à pluralidade, Lícia destaca que uma das principais deficiências do jornalismo brasileiro é a representatividade de mulheres negras, sobretudo em Alagoas. Ela traz como exemplo a própria revista que ainda não possui uma jornalista negra no quadro fixo, diferente do quadro de colunistas e colaboradores no qual existe uma maior diversidade de etnia, profissão, gênero e sexualidade.

Nós temos um homem negro e três mulheres brancas e isso é desproporcional, eu consigo ter essa compreensão. Mas, infelizmente, nós não temos ainda condições de trazer um jornalista fixo para o nosso quadro, de uma maneira remunerada fixa. A gente ainda não conseguiu atingir essa igualdade e eu sinto que esse é um passo muito importante que a gente precisa dar ao trazer uma mulher negra para cobrir essas pautas com mais propriedade, com mais lugar de fala realmente e representatividade, complementa a jornalista.

A redescoberta de Polyana

Polyana Lima, 27 anos, não esconde o orgulho da sua trajetória no jornalismo desde o momento em que optou lutar ao lado dos profissionais, ainda como estagiária, na greve de 2019. Foi justamente no Portal Acta que eu me redescobri como jornalista, diz ela, que sabe o quanto essa escolha a fez crescer em sua carreira.

Entre piquetes e mobilizações virtuais, os profissionais das grandes empresas de jornalismo de Alagoas realizaram uma greve, como última alternativa à redução de 40% do piso salarial da categoria. A decisão não afetaria diretamente Polyana por ser estagiária, e ela poderia ter continuado a trabalhar normalmente na produção de uma das TV’s do estado, mas decidiu integrar o movimento e estava disposta a sofrer as retaliações que as empresas fariam a todos os envolvidos depois.

Eu acredito muito que as nossas escolhas e decisões traçam os nossos destinos. Eu decidi abraçar a causa e entrar em greve junto aos profissionais das TVs, dos jornais, das redações. E a minha entrada nessa greve acarretou a não-renovação do meu contrato de estagiária. A partir disso, surgiu uma reunião de um grupo de jornalistas alagoanos que formaram o Acta, que é onde estou hoje como sócia, junto a outros nove colega, ressaltou Lima.

Foto: Kamilla Abely

Nascida em Maceió, Polyana teve uma infância tranquila com brincadeiras na rua, andar de bicicleta, jogar chimbra, esconde-esconde, pega-pega, uma criança bem “raiz”, como ela destaca. Sempre fui tida como uma criança boazinha, comportada, quietinha. Então nunca fui de dar muito trabalho assim para os meus pais, revela a jornalista.

O único trabalho que dava, entretanto, era quando se recusava a dormir cedo para ficar lendo seus quadrinhos e livros. Eu adorava ler, inclusive um dos motivos de meus pais brigarem comigo naquela época é porque eu ficava acordada até tarde, escondida debaixo das cobertas, lendo gibi da Turma da Mônica, era o meu vício na época, conta Poly.


Foto: Kamilla Abely

O hábito da leitura a acompanhou até a adolescência e vida adulta, o que influenciou sua escolha pela profissão, além do incentivo da própria família.


O chamado para o jornalismo
Polyana Lima
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Uma das dificuldades enfrentadas enquanto estudante foi a inserção no mercado de trabalho. Polyana começou a ficar preocupada quando, na metade do curso, ainda não havia conseguido uma oportunidade de estágio, pensando até em desistir do curso e migrar para a área da saúde. Antes de tomar a decisão, a primeira chance de estagiar apareceu e uma oportunidade foi puxando a outra: redação, produção de TV e outros.

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Polyana em piquete na Greve dos Jornalistas de Alagoas em 2019
Foto 01
Apresentação do programa Compacta
Foto 02
Polyana apresentando o programa Impacta
Foto 03
Realizando entrevistas ao vivo para o Acta
Fotos: Acervo pessoal

Enquanto estagiária, ela também passou por situações de assédio com um dos seus antigos chefes. Era um assédio disfarçado, velado e coberto por riso, e eu ficava na dúvida se era realmente isso ou se era coisa da minha cabeça, mas conversando com outras pessoas, percebi que não era só comigo. Por isso a importância de falarmos sobre, para que a gente consiga enxergar quando o assédio surge e para que a gente possa combater, tendo uma rede de apoio para nos encorajar, destaca.

Quando entrei no jornalismo, com a cabeça bem fechada, meu foco era apenas escrever. Se você falasse para mim que eu iria aparecer na tela, na TV, eu diria que era um surto, porque eu nunca me vi aparecendo assim
Polyana Lima


Polyana trabalha em home office tanto para o Acta quanto para sua agência. Foto: Kamilla Abely

Outra dificuldade que Polyana enfrentou foi descobrir em qual área trabalharia dentro do jornalismo e comunicação. Sua paixão sempre foi a escrita, mas sabia da importância de caminhar por todas as áreas para poder experimentar e entender qual mais gostava. Pela timidez, ela não se imaginava aparecendo na televisão, mas ao longo da sua formação, Polyana foi descobrindo novos talentos.

Quando entrou para o Portal Acta, veículo de notícias que ajudou a construir após a greve dos jornalistas de Alagoas, ela conseguiu entender, na prática, que aparecer em vídeo também seria possível e que seu visual com cabelo colorido e tatuagens não era nenhum impedimento.

Eu fui vendo a recepção das pessoas em relação a mim no vídeo, uma recepção legal e calorosa, e mudei essa forma de me enxergar. A gente tem muito estereótipo em relação à mulher jornalista que aparece em vídeo, que ela tem que ter um visual calmo, mais ameno, que ela não pode ter nada chamativo, mas ela pode sim. Não importa o que ela tem no corpo ou como é o cabelo dela e sim a informação que ela tem para passar para o público, reforça.


Horizontes e possibilidades da área
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Entre as coisas que Polyana aprendeu na faculdade está a importância de passar, para o público, a informação com a maior clareza possível. Entretanto, antes mesmo de cursar jornalismo, ela já ensaiava essa transmissão ao explicar as notícias do dia a dia para sua avó que era analfabeta.

Minha avó sempre me inspirou muito, ela já faleceu e nunca aprendeu a ler durante sua vida, então eu via muita dificuldade por parte dela para assimilar os conteúdos e a gente sempre ajudava. Ao entrar no jornalismo, teve uma aula que me pegou muito de surpresa quando o professor falou: quando você for escrever, faça como se estivesse escrevendo para sua avó. A partir daí coloquei na cabeça que preciso fazer meu trabalho da forma mais clara, fácil e coesa possível para pessoas como a minha avó possam entender, revelou a jornalista.



Inspiradoras

Visitamos o Bloco de Comunicação Social (COS) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) para perguntar às estudantes de jornalismo quais são as mulheres que são referência na área, confira o resultado:

@protagonismofemininoal Demos um pulo no COS para conversar com as estudantes de jornalismo e descobrir quais as mulheres jornalistas que inspiram e são referência para elas 🫶🏻 #jornalismo #mulheresjornalistas #inspiracao #ufal ♬ som original - Protagonismo Feminino AL